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Publicado em 05/06/2017
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Artigo: Capitalismo de laços


Publicado originalmente no jornal A Gazeta em 4 de junho de 2017

A operação Lava Jato, em pouco mais de três anos, tem desnudado a política brasileira e mostrado o quão hedionda ela é por debaixo dos trajes da hipocrisia, cinismo e demagogia que a vestem.

É impressionante, assim, observar a capacidade das ações dessa operação em revelar a sujeira que estava por detrás das cortinas ou debaixo dos tapetes da política brasileira, surpreendendo-nos a cada dia com novas e estarrecedoras informações.

De tudo o que passou a ser conhecido pela população nesses últimos três anos, uma das coisas que mais causam espécie e, por conseguinte, indignação em qualquer cidadão com escrúpulo é a forma promíscua como vem se relacionando, ao longo dos últimos anos, a classe política com o poder econômico (grandes empresários), conforme tem vindo à tona por meio dos casos Odebrecth, OAS, JBS, dentre outros relacionados às ditas empresas “campeãs nacionais”.

Para além das vultosas quantias que irrigavam campanhas eleitorais - via caixa 2 - quebrando um dos pilares que afiançam a democracia, que é a igualdade de condições, saltou do subsolo para a superfície o funcionamento de um engenhoso processo de captura das estruturas do Estado, que fecundou, em terras brasileiras, uma cleptocracia sem paralelo na história do mundo moderno.

Como tentativa de compreensão desse fenômeno, o economista e professor Sérgio Lazzarini cunhou a expressão capitalismo de laços, que dá nome a um livro de sua autoria. Cuida-se de um emaranhado de contatos, alianças e estratégias de apoio que gravitam em torno de interesses políticos e econômicos. Traduzindo, é um modelo assentado no uso das relações para explorar, de maneira espúria, todas as oportunidades de mercado e influenciar nas grandes deliberações públicas, direcionando-as a satisfação de mesquinhos e asquerosos interesses.

Por isso mesmo, precisamos estar vigilantes e sempre desconfiados quando agentes políticos patrocinam pacotes de generosidade (como políticas de crédito subsidiado e refinanciamentos de débitos e renúncias fiscais) para os grandes empresários sob o manto do fomento da economia e da melhoria do ambiente de negócios. Afinal, os fatos estão demonstrando que o que está por trás disso, muitas das vezes, são relações e intenções nada republicanas, que reforçam as cordas do patrimonialismo e do compadrio, com as quais enlaçam o país, aprisionando-o no subdesenvolvimento moral, social e econômico.

Adson Thiago Oliveira Silva é economista e auditor fiscal da Receita Estadual.