O Brasil vive um capítulo dramático de sua história. Como se não bastassem as revelações cotidianas dos casos de corrupção que surrupiam não só o erário, mas a esperança do povo brasileiro, enfrentamos também crises de natureza econômica, social e, sobretudo, de identidade nacional.
Segundo o filósofo Jurgen Habermas, uma nação tem o significado de uma comunidade política marcada por uma ascendência comum, ao menos por uma língua, cultura e história. Isso pressupõe a existência de vínculos de simpatia e solidariedade entre os seus membros capazes de mobilizá-los em torno de projetos e compromissos comuns.
Não parece ser mais assim no Brasil. Apesar de termos uma língua, cultura e história em comum, é muito nítida a debilidade dos vínculos, especialmente de solidariedade, entre nós brasileiros. Isso é verificado quando se questiona, por exemplo, o sistema de pagamento de benefícios àqueles que nunca contribuíram com a Previdência Social, as políticas afirmativas e o modelo de repartição assimétrica do produto da arrecadação tributária para as regiões mais pobres do país.
Vivemos aquilo que o filósofo Charles Taylor denomina de fragmentação política, ou seja, a perda da capacidade de criarmos projetos comuns e realizá-los. Nesse cenário, as pessoas passam a praticar uma política de exclusão predicada na crença de que a sociedade é, no máximo, composta por um ajuntamento de cidadãos mutuamente desinteressados. Para Taylor, isso é provocado não só pela debilitação dos vínculos de simpatia e solidariedade, mas também pelo fracasso da própria iniciativa democrática.
Quanto mais fragmentada politicamente é uma sociedade, mais difícil é a formação de coalizões majoritárias em tomo de projetos destinados a tratar dos principais problemas da sociedade como um todo. Na realidade, verifica-se até a formação de alianças em tomo de alguns projetos, mas se tratam de agrupamentos parciais que não abrangem a sociedade como um todo. Cuidam-se de agregados com objetivos estreitos mobilizados a defender somente o seu quinhão, e isso a qualquer custo.
Uma sociedade onde o cálculo econômico é o que centraliza a agenda do debate político e, por isso mesmo, o que deve ser perseguido é a diminuição do “custo” dos direitos sociais pelas ditas “reformas”, acaba não se dando conta do quanto essas ideias servem para embrulhar um pensamento político rudimentar e com danos desastrosos para sustentação da ideia de nação.
Adson Thiago Oliveira Silva é economista e Auditor Fiscal da Receita Estadual
O presente artigo também foi publicado no jornal A Gazeta desta quarta-feira(11):