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Publicado em 08/03/2019
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Foi traumatizante, lembra ex-subsecretária da Receita do ES sobre entrada no serviço público em 84

Texto: Weverton Campos
Foto: Arquivo Pessoal

A auditora fiscal da Receita do Estado do Espírito Santo aposentada, Elineide Marques Malini (63 anos de idade), lembrou um pouco neste Dia Internacional da Mulher como foi sua entrada no serviço público, em 1984.

elineide Até então, ela é a única mulher que chegou a ocupar o cargo de subsecretária de Estado da Receita - reflexo de uma carreira majoritariamente masculina, onde menos de 10% do quadro é composto por pessoas do sexo feminino.

 Na época, Elineide integrou o primeiro grupo de mulheres a trabalhar num posto fiscal no Estado (antigas estruturas que ficavam nas divisas do ES com RJ, MG e BA e serviam para verificar a regularidade tributária do transporte de mercadorias). Até então, somente homens trabalhavam nos locais. As mulheres ficavam mais responsáveis pelos trabalhos internos.

 "Foi traumatizante, porque os caminhoneiros não aceitavam e alguns colegas também não aceitavam. A não ser o grupo que entrou comigo, porque já tinha mais costume", conta.

Elineide explica que algumas pessoas que conviveu na época eram mais velhas e, culturalmente, mais machistas. "Ainda havia resquícios daquela coisa meio paternalista, de achar que a gente nem deveria trabalhar e sim ficar cuidando da casa", diz.

 Às vezes o assédio chegava a situações extremas. "Teve um caso em que o colega precisou pegar um revólver e apontar para um motorista de caminhão porque ele ofendeu a gente. Então tinha aqueles que não nos aceitavam, mas também aqueles que nos acolheram".

 Ao longo da carreira, Elineide foi chefe em diversas áreas da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz-ES): Subgerente de Orientação Tributária e Regimes Especiais; Representante capixaba no Cotepe (Conselho Nacional de Política Fazendária); Assessora do Secretário da Fazenda; Chefe dos setores de Comércio Exterior e Produtos Primários e, por fim, Subsecretária de Estado da Receita em 2014, ao final do primeiro mandato de Renato Casagrande.

"A gente sente sim uma resistência dos homens quando ocupamos cargos de chefia. Alguns resistem que a mulher esteja dando diretrizes, porque até então só os homens faziam isso", reflete. Mas para Elineide, pouco a pouco, o problema vem sendo dirimido. "Enquanto subsecretária, não tive tantos problemas. Hoje as mulheres sofrem menos assédio, mas há muito no que avançar", finaliza.

A data

Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o chamado Dia Internacional da Mulher é comemorado desde o início do século 20.

Hoje, a data é cada vez mais lembrada como um dia para reivindicar igualdade de gênero e com protestos ao redor do mundo - aproximando-a de sua origem na luta de mulheres que trabalhavam em fábricas nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.

Elas começaram uma campanha dentro do movimento socialista para exigir seus direitos - as condições de trabalho delas eram ainda piores que as dos homens à época.

A origem da data escolhida para celebrar as mulheres tem algumas explicações históricas. Apesar de ser muito comum relacioná-la ao incêndio ocorrido em Nova York no dia 25 de março de 1911 na Triangle Shirtwaist Company (quando 125 trabalhadoras morreram), há registros anteriores a esse episódio que trazem referências à reivindicação de mulheres para que houvesse um momento dedicado às suas causas dentro do movimento de trabalhadores.

Entre eles estão a grande passeata das mulheres em 26 de fevereiro de 1909, em Nova York, e o protesto de operárias russas contra a fome e a Primeira Guerra Mundial em 8 de março de 1917.

Série Dia Internacional da Mulher

Em homenagem a todas as mulheres que integram o Fisco capixaba, o Sindifiscal estará, no decorrer dos próximos dias, publicando outras experiências de auditoras ao longo de suas carreiras.